Num final de dia de 1992, Luis estava cansado, com pressa para voltar para casa. Carregava uma sacola grande, com bijuterias de estanho que revendia, pesadas a valer. Quando viu o trem parado na plataforma da estação Hermelino Matarazzo, desceu as escadas em disparada. Atirou-se na porta, mas ao tentar se segurar desequilibrou e caiu...
Caiu num lugar muito escuro... Não conseguia se localizar, tudo aconteceu muito rápido. Quando se deu conta, já era.
A equipe de resgate chegou, fez algumas perguntas para checar o quanto ele estava consciente. Até o CEP de casa ele soube informar. Depois, apagou.
Luis Eduardo Lima Goulveia, 40 anos, nasceu em São Paulo, no Itaim Paulista. Morou no Jacupiranga, depois em Peruíbe, voltou para a capital, até mudar-se para Caraguatatuba, onde mora atualmente.
Sempre foi de batente! Aos 13 anos já trabalhava no armazém de um Libanês, a quem até hoje é grato, descarregando sacas de arroz. Tentava imitar os homens fortes, e conseguia colocar 30kg em cada ombro – o que já era um grande feito para seu tamanho. Depois trabalhou como pedreiro, azulejista, cobrador, pintor, não ficava parado.
Aos 17 anos, apaixonou-se pela vizinha. E quando jogava vôlei com os amigos, dava um jeito para que a bola caísse no seu quintal. Foi assim que um dia, eles se conheceram e este tal de “amor à primeira vista” aconteceu. Um ano depois, Luis chamou seu pai para acompanhá-lo no pedido de casamento. Fez questão de fazer tudo como manda o figurino. Assim, Luis e Nilza se casaram.
Aos 20 anos, nasceu Dudu, seu primeiro filho. Luis não se esquece de quando viu o filho pela primeira vez, “aquela coisinha branca, carequinha, de olhos pretinhos”, através do enorme vidro do berçário. Queria mesmo ser pai jovem, para depois jogar bola com o filho, curtir o garoto.
Quando o acidente aconteceu, Dudu já dava passos firmes, enquanto Luis teve que aprender a viver sem as duas pernas. Passou por todas as fases, revolta, depressão, auto-piedade, e através do apoio e amor da família e de amigos, foi superando todas. Para ele, a paciência e as boas companhias foram grandes aliadas em sua recuperação. Em 2005, nasceu Lucas, o “Luquinha”, e nada como uma criança para anunciar novos tempos.
Um ano e meio depois, um amigo incentivou Luis a se mudar para Caraguatatuba. A família veio, gostou e montou uma pizzaria-restaurante. Mas, com o tempo, Luis foi se acomodando, arrendou o comércio e a vida resumia-se ao sofá, à TV e ao controle remoto. Então, um dia ele se lembrou do posto de gasolina onde vira outros cadeirantes e deficientes. Chamou Nilza e a convidou para ir até lá, se oferecer para trabalhar. Até Lucas veio junto.
E assim foi. No começo de 2010, para alegria de todos, Luis passou a fazer parte da Energia.
Quem vê o homem sério, surpreendentemente ágil, tatuado, de pouco sorriso, não faz idéia de seu bom coração e de sua coragem. Aos 40 anos, Luis já realizou boa parte de seus sonhos. Agora, quer servir ao próximo através da Solidar.
Luis é um grande exemplo de superação e a lição maior de que a vida é a melhor escolha!