sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Do Trio Elétrico à Solidar

Gabriela Gomes Molinari, a Gabi, tem 36 anos e mais de 13.000 dias de histórias para contar. É bonito ouvi-la falar. Tão bonito quanto o processo da Beleza, pela qual ela é responsável na SOLIDAR.

Nascida em Vitória-ES, foi criada no Rio, onde morava a família de seu pai. Um belo dia, sua mãe, Antonia, levou os cinco filhos para passar férias em Guarapari e quando voltou seu apartamento havia sido roubado. Levaram tudo. Até os móveis. Como já estava separada, Antonia decidiu morar no Espírito Santo, já que seus parentes eram capixabas.

E foi lá que Gabi viveu, dos 9 aos 24 anos. Namorou, noivou três vezes e numa delas, terminou o noivado com vestido pronto e casa mobiliada. A jovenzinha queria mesmo era ganhar mundo, aprender mais do que Contabilidade, viajar. E quando conheceu João, foi morar com ele quando tinham apenas um mês de namoro. O moço tinha vindo de São Sebastião, onde vivera 4 anos trabalhando como garçom e no ramo de apostas.

O casal não demorou a cair na estrada. Moraram um ano e Vassouras, no Rio, onde morava a mãe de João e depois se mudaram para Salvador. Lá ficaram por 3 anos, tempo em que a vida foi sempre divertida, cercada de amigos acolhedores. Por um bom período, também foi desconfortável: se almoçavam, não jantavam e se jantavam, era porque não tinham almoçado... Sem falar no banho que era de caneca porque no morro onde viviam a água não tinha muita força para subir. Mas, quando Gabi conseguiu trabalhar como assistente num consultório odontológico de bacanas (que atendia até o “Painho ACM” - Antonio Carlos Magalhães), não quis saber de mais nada a não ser correr atrás do trio elétrico! Não economizava em abadas para pular ao som de Ivete Sangalo da Banda Eva, Daniela Mercury, Expresso 2222...

Depois, vai daqui, vai dali, os dias os guiaram a São Sebastião. Para viver aqui, começaram do zero, vendendo salada de fruta em Baraqueçaba: “Salada de Fruta do Casal, igual a essa não tem nada igual!”. Então, chegou alguém para adoçar as frutas, o casal e suas vidas: nasceu a Mel!

E com a chegada de Mel, bons encontros se sucederam: Gabi, de filosofia Budista, conheceu Mary que já trabalhava na Solidar. Em São Sebastião, ela sentia reviver um círculo cármico e depois de muita oração, soube que havia uma oportunidade no Posto. Veio correndo!

A moça que queria ganhar mundo, ganhou uma coisa que se encontra dentro, e não fora. Emocionada, diz: “Encontrei um lugar que prega e vive as coisas mais importantes que eu acredito! Os valores da Solidar, são os meus valores!”. Que bom! Como dizem por aí, “os iguais se encontram”. E se saúdam.

Salve, Gabi! É bom tê-la por perto.

sábado, 9 de outubro de 2010

Kall (cuja identidade “secreta” é Claunusia Ferreira da Silva) nasceu em Novo Oriente, interior de Minas Gerais. Mas, como muitos dos bons mineiros, seguiu as águas dos rios e desaguou com a família em São Sebastião. Era 1985 e a mineirinha do sorriso lindo só tinha 8 aninhos.

Aos 4 meses, Kall foi vítima de paralisia infantil e cresceu sem movimento nas pernas, mas vivia “rastando nas ruas”, diz ela. Só aos 10 anos, quando a família resolveu matriculá-la na escola é que conheceu uma cadeira de rodas. Para freqüentar as aulas precisou superar dois obstáculos: o deslocamento e o preconceito. Foi preciso muita luta para que os professores a aceitassem. Como os Ferreira da Silva são guerreiros, ela conseguiu!

Foi tomando gosto pelos estudos, cresceu e começou a fazer um cursinho aqui, outro ali, pensando em começar a trabalhar. Mas trabalhar aonde? Foi então que apareceu uma oportunidade na Associação dos Deficientes Físicos. Ela topou e foi ser secretária. No começo, tinha medo de sair sozinha, precisava de alguém que a acompanhasse. Aos poucos foi conquistando sua independência. Queria mais que uma pensão do INSS, queria viver!

Um dia, Marcos, que já trabalhava aqui, comentou com ela que Marcelo – que Kall já conhecia da Associação – estava precisando de uma pessoa para o Posto de Serviço ao Próximo. Ela topou e se virou! Insistiu tanto com a companhia de transporte urbano que conseguiu introduzir na linha urbana, ônibus adaptados de acordo com seus horários de trabalho.

Kall é persistente com seus sonhos: queria trabalhar e conseguiu, agora sonha em ter sua casa, casar e ter filhos. Com este sorriso estonteante, tenho certeza que logo o amor chega.

Para ela, a deficiência não foi motivo para não sair do lugar. Como ela fez? Contou com o carinho da família e teve perseverança para superar a descrença e humildade nos momentos em que é preciso pedir ajuda.

Kall, querida, que a força dos seus desejos a mantenham sempre em movimento!